16.4.02

Dando continuidade aos causos etílicos, aqui vai mais um intitulado:

A Noite Macabra do Taz

O relato que se segue, é verídico. Aconteceu na pacata e provinciana cidade de Novo Hamburgo mais precisamente no nr.78 da rua Alberto Torres. Habitavam nesta casa (na verdade era uma maloca), quatro indivíduos muito dados à práticas etílicas, flátulas e masturbativas. Na noite que antecedeu o ocorrido, fui até o referido barraco, para averiguar a veracidade de informações de que lá encontrava-se uma geladeira devidamente abarrotada do precioso líquido denominado cerveja. Entramos em consenso e decidimos que para o bem da humanidade, daríamos fim àquele odioso líquido no dia seguinte.
Muito embora o governo norte americano negue veementemente, temos fotos que registram o fato; uma geladeira completamente entupida de garrafas de cerveja postas para gelar.
No dia seguinte, ao acordar, já me dirigi ao fatídico local, palco de tantos dramas humanos. Lá já estavam os moradores, Cézar, Cássio, Nakagima, e o Tavares; um vizinho bagaceiro daquela quadra com o codinome Parahim e Luli o clone do Beavis. Logo depois chegaram advindos da capital o Beto Barata (que atualmente encontra-se em paradeiro desconhecido), o Carlinhos vulgo Papai-Smurf e o Alemão Schineca.
As reservas de cerveja começaram a ser sorvidas pois em breve, daríamos início ao C.F.L.F (Campeonato de Futebol na Lama da Fubangagem). A partida de futebol antecedia à um jogo que seria televisionado da final do Brasileirão de Grêmio e um timeco paulista qualquer, cujo nome agora não me vem à memória. A partida de futebol consistia em manter-se de pé, tomando cerveja e chutando uma bola e quem aparecesse pela frente.
Os vizinhos começaram a assistir aquela cena, com alguma preocupação pois jamais tinham visto coisa parecida... Dez bagaceiros se chutando na lama, gritando palavras de baixo calão e tomando cerveja.
A partida foi então subitamente interrompida, pois a mãe da vizinha começou a ter um infarto ao assistir tamanha selvageria. A mulher solicitou um carro para levar a véia para o hospital, mas como a partida de futebol na tv já estava começando, pedimos que ela aguardasse um momento e fomos todos para a sala para assistir o jogo.
Aquele dia, infelizmente o tricolor não estava inspirado, e começou a levar gol. Indignado que estava, fui até a caixa disjuntora e desliguei a luz para por fim aquele martírio. A indignação foi geral, muitos gritos de FIADAPUTA, VAITOMANOCU, e PUTAQUEOPARIU foram proferidos. Logo descobriram que a luz tinha sido desligada. As coisas voltaram ao normal até que desta vez um colorado chamado Cássio foi ao disjuntor e desligou novamente a luz. Novamente muita gritaria só que desta vez com chutes. A violência começou então, num crescente. Algumas revistas pornográficas que faziam parte da decoração foram rasgadas. A luz voltou mas ninguém mais assistia ao futebol. Almofadas eram atiradas pela sala até que alguém teve a brilhante idéia de imitar a mãe do Romário, e uma garrafa vazia foi arremessada de uma ponta a outra da sala indo se espatifar de encontro a parede.
Neste momento o Alemão Schineca e o Beto Barata pressentindo o que estava por vir, correrram para o carro e partiram para nunca mais voltar.
A balburdia tomou conta da sala, enquanto mais alguns vasilhames forma quebrados e montinhos (que hoje são imitados num programa de tv da rede Bandeirantes chamado Descontrole) foram feitos em meio aos cacos de vidro.
Alguns socos e pontapés depois, a gurizada ficou com fome, e nos dirigimos para a garagem para assarmos um franguinho e um pedaço de Alcatra. Sentindo o cheiro de comida o bagaceiro do Tiago apareceu. Carlinhos, dono dos vasilhames quebrados, se indignou e também jogou uma garrafa na parede só que cheia.
O repúdio àquele ato foi geral. Isso ia de encontro a toda a filosofia pregada e difundida na Santa Igreja da Manguaça. O ódio tomou conta de todos, e móveis começaram a ser chutados e quebrados seguidos de urros animalescos.
Luli comia um pedaço de carne quando a mesinha em que estava seu prato foi chutada virando com as pernas para cima, ficando ele sentado apenas com o garfo na mão.
Um sofá foi completamente destruído em segundos devido aquela insana demência. Cássio e Parahim num ímpeto conseguiram ainda trancar a tv num quarto e arrastar um outro sofá que enquanto era carregado, levava chutes de Tavares dizendo:
- Eu também quero quebrar! Eu também quero quebrar!
A seguir uma dança foi feita, ritmada pelos acordes de Falcão cantando:
- Eu não bebo, não fumo, não cheiro, não namoro em pé, e no caminho que estou vou me acabar na mão!
Enquanto dançavam escorregavam no chão e caiam nos cacos de vidro, caracterizando o flagelo humano.
Depois disso, um cansaço tomou conta de todos, estava na hora de dormir, mas antes tínhamos que limpar tudo. Arremessamos os restos de móveis e mesas no quintal do vizinho. Vi alguém levantar um sofá por cima da cabeça, gritar:
- Eu tenho a força! - e arremessá-lo.
Enquanto alguns já se acomodavam, fui pra casa dar uma descansada pois lá não tinha mais cama.
Acordei às 19:00 com a cabeça latejando e me dirigi ao barraco para ver se restava alguma cerveja. Chegando lá, devo confessar-lhes que fiquei com medo.
Estava tudo escuro, nenhum sinal de vida, nenhuma luz acessa, as portas e janelas abertas, restos de móveis por toda a casa, e sangue evidenciando sinais de luta corporal.
Encontrei dois corpos jogados num quarto e verifiquei se estavam vivos. Eram o Cássio e o Parahim que dormiam abraçados na televisão intacta. Tentamos acordar o Tavares e o Nakagima, colocando o despertador pra tocar e avisando que estava na hora de ir trabalhar. Não obtivemos sucesso e fomos para o centro da cidade pra passar a noite e molhar a garganta.
No dia seguinte o Tavares acordou com baques estranhos atingindo a casa. Era o vizinho que estava limpando o quintal e jogando de volta os restos de móveis atirados.
Para encerrar, dois dias depois, Nakagima recebeu a visita de um oficial de justiça que foi lá atender um abaixo assinado da vizinhança.

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