30.12.04

Cerveja- A bebida Revolucionária (parte II)

O que parece ter sido um denominador comum, em todas as sociedades é função social do ato de beber. ``A falta de realidade causada pela embriaguez deve ter sido profundamente bem-vinda num mundo sombrio e entediante``, escreve Hornsey. Alguma semelhança com suas motivações para um copo de cerveja?
Nos primórdios, a palavra cerveja englobava toda bebida fermentada originada de algum grão, e cada região preparava a bebida de forma distinta. Na África, todas as tribos têm a sua bebida alcoólica tradicional, feita do cereal predominante na região. Na América do Sul, os índios da Amazônia usavam a mandioca, e os incas, o milho- que ainda hoje é usado para preparar a chicha boliviana. Japoneses, chineses e russos fermentavam bebidas de arroz, trigo e centeio, respectivamente. No restante da Ásia, o sorgo (uma planta também conhecida como milho -zaburra) era o preferido.
Até a invenção dos destilados, no século 14, a outra opção de bebida alcoólica era o vinho, considerado um líquido nobre por gregos e romanos. Para esses povos, era quase absurdo o fato de que até os faraós do Egito apreciavam aquela bebida grossa e turva produzida com a mistura de cevada e água. Mas felizmente os preconceitos desses dois povos foram ignorados no Oriente Médio e a tradição se espalhou. Diferentemente do vinho, a cerveja era uma bebida democrática e agradava reis e escravos. Ela era oferecida aos deusas em festas religiosas, receitada como remédio e usada como salário para os operários. Se a bebida não era exatamente a mesma de hoje, o comportamento social dos bebedores não mudou tanto assim. Há 4600 anos, o ministro egípcio Kagmeni se viu obrigado a bolar a primeira campanha de consumo consciente. ``Um copo de água sacia a sede`` era um dos slogans que tentavam doutrinar os boêmios adeptos dos copos. Constantemente bêbados, celtas, vikings e saxões eram capazes de brigar com os próprios companheiros depois de vencerem uma guerra.

bebo


























ABENÇOADA POR DEUS

No continente europeu, onde hoje vivem os maiores consumidores mundiais de cerveja, a bebida progrediu e mudou a história da humanidade. No mundo medieval, ela era tão preciosa que valia até como pagamento do dízimo na igreja e dos impostos.
Como a produção era simples - bastavam um suprimento de água e cereais, um esmagador de grãos, uma vasilha, fogo com combustível para aquecer a água e recipientes para armazenar - a cerveja era normalmente produzida em casa. E sem condições de conservá-la por muito tempo, a produção servia apenas para consumo imediato.
Na primeira metade da Idade Média, entre os anos 500 e 1000 da era cristã, a produção foi centralizada em monastérios e conventos, que costumavam oferecer pousada e refeições para os viajantes. Santa decisão. Com tempo para aprimorar a produção, os religiosos revelaram-se excelentes e abnegados mestres cervejeiros. Nessa época nasceu a cervejaria mais antiga do mundo ainda em atividade, montada em 1040 no monastério Weihenstephan, na cidade alemã de Freisig. Naquele tempo, era comum a adição de ervas e raízes como gengibre, sálvia e louro para aromatizar a cerveja. Foram os monges em suas experiências que aperfeiçoam a bebida, introduzindo o lúpulo no processo de fabricação a partir do século 9. Simultaneamente, ele passou a ser utilizado na Alemanha, na Suiça e na Inglaterra. Essa folha conferiu à bebida um sabor amargo e, o melhor de tudo, tornou-a mais resistente à passagem do tempo, abrindo melhores possibilidades de armazenagem e transporte.




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